Ser ou não ser Charlie, eis a questão. O que é mais nobre para o jornalista adepto a uma religião? Sofrer ataques por defender um veículo de comunicação ofensivo para homens de fé, ou suportar calado o terrorismo para não entrar em conflito com alguma crença?
Em 7 de janeiro de 2015 o mundo inteiro levou um susto, ao saber que extremistas islâmicos atacaram um grande veículo de comunicação na França, matando 12 pessoas e deixando outras 11 feridas. Eu sou do tipo de leitora que jamais assinaria o Charlie Hebdo. Não tenho afinidade com a sua abordagem e considero algumas críticas no formato de charge desnecessárias e intolerantes. Eu não quero ver a minha fé, ou de outras pessoas sendo alvo de piada, ainda mais em um cenário mundial onde precisamos criar um consciência crítica e tolerante, e não cobrir ainda mais as religiões de esteriótipos. Mas como disse, eu simplesmente não assinaria o jornal.
No mesmo dia do ataque, nos deparamos com uma grande onda de apoio ao jornal na internet, usando a frase “Je suis Charlie”, e como era de se esperar, logo em seguida veio outra onda intitulada “Je ne suis pas Charlie”, que no geral, acusava o veículo de ser tudo o que ele era, e portanto, de não merecer apoio.
No último texto desse blog questionei a lógica da pena de morte, e agora questiono a lógica da própria morte como forma de justiça. Como eu sou contra a linha de pensamento do jornal, devo achar justo que seus funcionários (e outros) sejam condenados? A liberdade de imprensa deve ser comprometida quando se falta respeito na opinião de alguém? Como eu disse, eu mesmo me senti indignada com uma ou outra charge do jornal, mas mesmo assim assumi que sou Charlie, pois não apoio uma imprensa livre para que ela publique somente conteúdos do meu agrado. Eu apoio a liberdade tendo consciência que muita coisa não está de acordo com meu pensamento, mas ao mesmo tempo, posso expor muito do que não está de acordo com a maioria.
Nesse caso, há uma série de injustiças que deveriam ter sido consideradas por todos que manifestaram sua opinião de alguma forma. Pelo menos deveriam ter considerado que:
- O terrorismo não é justificável! Se você é contra algo, use seus argumentos ao invés de silenciar pessoas;
- O islamismo é uma religião, não uma facção criminosa. A grande parte da comunidade islâmica é contra o terrorismo;
- Pela lógica, se você justifica o terrorismo, dá razão para alguém tirar a sua vida se discordar da sua opinião.
Ressalto algo importante sobre o ponto 2: discordo de boa parte do Islamismo, mas como cristã, eu entendo muito bem a comunidade islâmica. Alguns acreditam que minha religião consiste em arrecadar dinheiro dos desesperados com manipulação, quando na verdade, é uma minoria que prega essa ideia louca da teologia da prosperidade.
Acredito que publicações de qualquer alcance, devem sim ser responsáveis, pois correm o risco de ser preconceituosas e de reforçar injustos esteriótipos. Em todo caso, se isso acontecer, não há nada mais inútil do que censurar, atacar e matar os idealizadores dessas desinformações. Isso também é ir contra a justiça.
“Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça.” – Efésios 6:14