Sobre essa campanha contra o aborto

Durante esse mês, várias mulheres (incluindo amigas minhas) postaram fotos grávidas ou com seus bebês, sob a hashtag #desafiocontraoaborto. Recentemente o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também se manifestou contra qualquer tipo de discussão sobre a legalização do aborto. A minha opinião de jornalista, feminista involuntária, cristã e mulher pode contrariar algumas pessoas, mas ainda não achei base para pensar diferente.

Posso estar errada, mas não entendo como a luta contra a legalização do aborto pode ser legítima. Eu sou pessoalmente, terminantemente contra o aborto. Em qualquer situação, eu teria sim a criança que gerei. Tenho certeza que iria até o fim da gestação, mesmo que fosse para entregar a criança para adoção em último caso. Mas essa sou eu.

Na minha opinião, é um crime tirar a vida de uma criança, independente do tempo de gestação que essa tem. Um feto é vida, e tirar a vida de um ser humano vai contra tudo em que acredito. Inclusive, acho absurdo e conflitante a mesma pessoa ser contra o aborto mas ser favorável a pena de morte.

Espero ter deixado bem clara a minha posição, antes de me manifestar quanto a questão da legalização. Mas só pra reforçar, vou contar rapidinho a minha própria história.

A minha mãe, Edna de Paula, teve seu primeiro filho em 1986. Planejado. Um ano depois de se casar. Com estrutura. Tudo lindo. Quando meu irmão tinha 8 meses de idade mais ou menos, ela descobriu que estava grávida de mim. Surpresa! Eu consegui atravessar dois tipos de anticoncepcionais e o período de amamentação do meu irmão. Quando ela descobriu, já no 4° mês da minha gestação, sua regra menstrual estava normal, seu primeiro filho ainda era de colo, ela e meu pai tinham estrutura, mas não para dois filhos, e para melhorar a situação, ela estava doente. Tinha duas hérnias no estômago e estava tomando remédios para úlcera, que eram abortivos.

A médica da minha mãe foi bem clara ao dizer que ela deveria escolher entre a própria vida e a minha. Hoje, eu só estou escrevendo esse texto por ela ter decidido em meu favor. Eu nasci doente e permaneci assim até uns 4 anos de idade. Dizem que eu pesava 10 quilos nessa época. Ela teve depressão pós-parto, tanto que não se lembra do meu primeiro ano de vida. Mas contra todas expectativas… estou aqui. E ela também.

Não. Eu não sou, e nem poderia ser, a favor de um aborto em nenhuma situação.

Porém, eu sou sim, a favor da legalização do aborto. Sério. Centenas de mulheres que querem abortar, abortam. Amigas minhas já o fizeram, e sem segurança ou procedimentos adequados. Proibir o aborto, não significa que ele não será feito. Quando uma mulher chega a tomar essa decisão, o menos importante é se ela estará infringindo alguma lei ou não. Se trata de um adeus ao filho que ela nunca verá crescer. Se nada a impedirá, a única diferença é: ter dinheiro para uma ótima clínica clandestina, ou fazer o procedimento em um banheiro sujo com uma agulha de tricô.

Acho que a luta contra o aborto é válida. Mas a luta contra a legalização do aborto é desumana. Meu papel na sociedade como cristã, é trabalhar na minha comunidade, dar todo o apoio e oferecer a orientação e o suporte necessário para que mulheres não abortem. É ajudar. Já o papel do estado, é estar preparado para oferecer todo o tipo de orientações e esclarecimento quanto as consequências da escolha dessas mulheres, e zelar por sua segurança simultaneamente. Isso tudo, independe da decisão que a mulher tomar!

Toda gestação tem uma história, e todo aborto também. É muito fácil apedrejar mulheres que decidem interromper a vida do próprio filho, mas é inimaginável estar no lugar de uma delas. Se você está nessa situação, me coloco a disposição para conversar a qualquer hora. De verdade. Eu seria uma hipócrita em dizer que você não pode interromper a vida de seu filho, mas que sou a favor de você colocar a sua vida em risco em procedimentos clandestinos. Parece que algumas pessoas pensam assim: “Sou a favor da vida, por isso o aborto não pode ser legalizado. Prefiro que você, mulher, morra durante seu aborto em um açougue qualquer.”

Eu não acredito no aborto como solução. Se a mulher não abortar, acredito que seu corpo e mente permanecerão mais saudáveis e em paz. Acredito que Deus pode surpreender e escrever uma linda história, que irá além de qualquer medo. Mas acredito que essa escolha cabe somente a mãe.

Termino esse texto agradecendo minha mãe, e ao Deus a quem ela recorreu no seus momentos de desespero. Acredito com todas minhas forças que foi Ele quem nos salvou, em todos os sentidos. Amo vocês!

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“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.” – Salmos 139:13

6 comentário em “Sobre essa campanha contra o aborto

  1. Então como decidir qual vida vale mais ? A da mulher que morre por não ter tido condições de pagar uma clínica clandestina ou a da criança que não escolheu aquilo e é uma criatura de Deus? Qual juízo de valor usar para definir que a vida da mulher é mais importante então privar o feto desse direito é ok?
    Esse argumento de “isso é o que eu acho, o estado tem que garantir direitos a todos” é extremamente perigoso. o que impede o estado de liberar a maconha, por exemplo, já que é algo que o indivíduo faz em sua esfera pessoal e eu, como cristã, tenho o direito de ser contra o uso da maconha, mas jamais contra a legalização

    1. Sara, desconfio que você está lendo só os títulos do meu texto, pois pergunta sobre ideias bem explicadas no conteúdo. Se o objetivo é proteger a vida da criança, os números mostram que a legalização é o caminho, até para que eu tenha o direito de orientar as meninas a não abortarem. Por favor, leia de novo. Não entendi o lance da maconha que você comentou. Fiquei confusa. Mas isso é outra história. Obrigada.

  2. Olá Sara! Comecei meu blog há poucos meses e ainda não havia encontrado, no Brasil, conteúdo parecido com o seu. Sou cristã também e estudante de Psicologia, então estes assuntos me confrontam bastante e procuro ler diversas opiniões. Mas confesso que há tempos já vinha refletindo sobre esta questão do aborto e compartilho da sua opinião. É muito polêmico e por isso te admiro por se expor dessa forma, colocando seus pensamentos de forma clara e respeitosa. Continuarei acompanhando seus textos! Um abraço

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