Porque eu não fui na manifestação do dia 15 de março de 2015

Esse texto está um pouco atrasado mas é de propósito. Não queria escrever isso no auge da indignação popular pra não ser mal interpretada. Eu não fui na “histórica” manifestação do dia 15 de março. Se você estava lá, acredito que fez muito bem. Os motivos que me fizeram ficar em casa foram poucos e claros e pretendo explica-los bem nesse texto.

1. Eu não caminho ao lado de quem pede a volta da ditadura. 

Sou jornalista formada e atuante. Conheço a história da ditadura no Brasil e tenho certeza absoluta que podemos dividir em dois grupos os que pedem pelo regime militar. O primeiro grupo é o de ignorantes, no sentido da palavra mesmo. Eles ignoram o contexto histórico da ditadura, os assassinatos de índios, a truculência policial legitimada pelo governo, a censura e a manipulação da mídia (pior do que é hoje) durante todo o período. Esse grupo diz que não tem medo do regime militar por ser trabalhador e honesto, mas eles não entendem que para ser considerado criminoso pelos militares, bastava discordar de uma ideia do governo. Acredito também que eles ignorem o fato de que manifestações DEMOCRÁTICAS não seriam permitidas. Apesar de ser bem óbvio. Eu perdoa esse grupo, mas não o próximo.

O segundo grupo se refere aos que tem total conhecimento dos fatos, e que mesmo assim clamam pela volta do regime. Esses, eu classifico como impiedosos. Eles não ligam para quantos inocentes sejam condenados ou por quantos anos mais o Brasil vai parar de evoluir. Eu não acredito que a evolução de uma nação parta do seu governo. Acredito que ela emana do povo. Se você censura o direito de pensar e de criticar o país estaciona, não inova, retrocede e fica bom só pra quem já está rico. Se você sabe de tudo isso e ainda pede a volta dos militares, é um egoísta que precisa muito de Deus no coração e digo isso sem medo de errar.

2. Não sou a favor de tirar do cargo um presidente eleito democraticamente. 

A gente identifica quão fútil é a discussão política no meio de manifestações como a do dia 15, quando vê que algumas pessoas só conseguem dividir o Brasil em dois: coxinhas ou petralhas. Não sou petista, não sou coxinha. Sou eu. Eu não voto com base em partidos, mas com base em história política. A culpa não é do PT. Não é do PSDB. Não é da democracia, nem da Petrobrás. A culpa é da falta de engajamento político de uma nação, incluindo os políticos. O Impeachment (que aliás, se escreve assim) só faria sentido se a nossa política fosse outra. Tira a Dilma e coloca o Aécio lá pra você ver o que acontece. Nada! Vai continuar a mesma coisa. Agora, se você me sugerir reforma política, eu vou te dar um abraço. O problema, é que uma porcentagem muito pequena estava pedindo reforma política no dia 15.

Os discursos que ouvi nas manifestações, eram extremamente rasos. Talvez os repórteres que captavam os depoimentos, ou os responsáveis pelas edições tenham feito isso de propósito e não vou excluir essa possibilidade. Mas mesmo tirando base pelas palavras de ordem, faixas e fotos, era perceptível que uma pequena minoria sabia de fato, o que estava fazendo ali. Quer ver a diferença? Compare os discursos dos dois vídeos abaixo. O primeiro é da manifestação do dia 15, e o segundo da manifestação dos ciclistas pelas ciclovias. A história da palhaçada que o Ministério Público está fazendo com os ciclistas (e com a cidade) é pauta pra outro texto, mas diga-se de passagem: que mancada MP!

Manifestação do dia 15 de março – Discursos rasos

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=JBrkxiBpCVQ&w=560&h=315]

Manifestação dos ciclistas – Argumentos, base, amor!

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Dgi_EuxuMO0&w=560&h=315]
Quando eu vejo uma séria de babaquices preconceituosas, reacionárias e sem fundamento fico me perguntando em que ponto a educação de perdeu tanto para que esses tivessem uma dificuldade tão grande em desenvolver uma consciência crítica, poder argumentativo e capacidade de interpretação. Não vá pelo senso comum ou pela opinião da maioria. Tire um tempo para ler história e o jornal, e crie sua opinião com fortes argumentos. É só isso que muda um país, uma população fortemente armada de conhecimento.