Minha declaração de voto cristão na véspera da eleição 2022

Foto: Priscilla Du Preez | Unsplash

Amanhã há de ser outro dia, e mesmo sendo véspera de eleição eu gostaria de partilhar como de costume meu voto e meus motivos, mas hoje muito focada nas minhas amizades evangélicas e católicas.

Vejo entre nossas igrejas um fenômeno perigoso, que defende pessoas e ideologias políticas como orientação divina ou até bíblica. “É uma luta do bem contra o mal”, dizem. O quanto é necessário diminuir o nosso Deus para caber nessa disputa?

Ele, nosso grandioso Deus, não habita em templos ou palácios (do planalto) feito por mãos humanas. (Jeremias 29:14) Por isso que acho tão importante nós, como povo de Deus, nação santa, nos posicionarmos: Deus não escolheu nem Bolsonaro, nem Lula, e PECA quem diz o contrário.

Nós, como igreja, não podemos e nem vamos transferir a nossa responsabilidade de anunciar o evangelho e a salvação para legisladores que DEVEM legislar para todas as pessoas, de todas as religiões, de forma justa e igualitária.

“Deus, pátria e família”, não é um lema cristão. É autoritário e excludente. É fascita (leia sobre o Integralismo e sobre os movimentos fascistas europeus para entender que a origem não é bíblica). Por mais que as palavras nos sejam familiares, elas não se originam na nossa fé.

Em que ponto, nós como igreja autorizamos o compartilhamento indiscriminado de informações COMPROVADAMENTE falsas, a amenização do pecado da violência armada, da defesa da tortura e do uso de verba pública para prostituição e rachadinas?

Com o mesmo incômodo eu pergunto, quando foi que nós como igreja permitimos que líderes nas nossas comunidades de fé cometessem o abuso de falar, seja nos púlpitos ou em suas redes sociais, que “direita” ou “esquerda” definem quem é ou não cristão?

Por fim e com dificuldade eu abordo o que é mais complicado para mim. Deveria ser assustador para todos nós, que denunciar problemas como a fome e a violação de direitos humanos seja entendido como “comunismo”, quando foi Cristo quem nos ensinou isso.

Nessa altura você já sabe com certeza o meu voto. E mesmo que eu tenha questionado apenas o que toda a igreja deveria estar questionando, tenho vivido, junto com irmãos e irmãs, o fardo de ser entendida como alguém que não respeita mais a minha fé e os meus valores cristãos.

Eu sou filha de um pastor preto pentecostal da periferia de São Paulo e de uma costureira que me criou com frases como “o diabo é o pai da mentira, não queira ser filha dele”. Ambos impedidos de fazerem uma faculdade por questões econômicas. Votar em Bolsonaro não faz sentido.

Sou jornalista e trabalho há anos com comunicação para organizações sociais e instituições religiosas que deununciam a pobreza, a desigualdade e o poder de Deus e da paz (não de armas) para transformação das realidades. Votar em Bolsonaro não faria sentido.

Mentiras frequentes do bolsnarismo como kit gay, ideologia de gênero (que não existe), banheiros partilhados de homens com meninas, apoio ao crime e fechamento de igrejas, desviaram milhares de cristãos da verdade. Não faz sentido votar em Bolsonaro.

Eu creio em um Cristo vivo que me tirou das trevas para a sua maravilhosa luz, perdoando os meus pecados, me dando várias segundas chances pela sua graça e misericórdia e acreditando em mim. Votar em Bolsonaro não faria sentido.

Sou trabalhadora, assalariada, formada com recursos do meu salário e bolsa estudantil, moradora da zona leste de São Paulo, membro de uma comunidade de fé que enfrenta uma dura realidade e se apoia. Votar em Bolsonaro não faria sentido.

Eu amo e respeito minhas amigas mulheres, meus amigos, amigas e parentes LGBTs, meus amigos, amigas e parentes que vivem de salário em salário. Votar em Bolsonaro não faria sentido.

Chorei por muita gente que perdi e com quem perdeu alguém na pandemia. Sofri e ainda sofro com entes queridos que recusam a vacina. Sinto um nó na garganta quando revejo o Bolsonaro mentindo sobre a pandemia e imitando gente com falta de ar. Votar em Bolsonaro não faria sentido.

“E faria sentido votar no Lula, corrupto, ladrão”, você pode perguntar. Sim. Faz. Nem eu, nem a maioria das pessoas que declararam o voto em Lula estão falando sobre ignorar os erros do PT. Temos críticas. Mas sei quem permite investigar, e quem impõe sigilo em investigações.

“Mas a família, a igreja, o comunismo”, eu sempre ouço. No fim desse mesmo texto no meu blog eu deixo uma indicação para talvez você ver que isso é só uma série mentiras sem fundamento, mas acho difícil que quem não quis assumir que está reproduzindo mentiras queira fazê-lo.

Amanhã, voto com consciência tranquila e muita esperança. Não esperança em Lula, mas esperança no fim de Bolsonaro. Esperança no fim do bolsonarismo, problema com o qual vamos lidar mesmo sem Bolsonaro. Voto com esperança no fim da instrumentalização da fé, de Deus e da igreja.

Finalizo indicando a canção MESSIAS que me trouxe um sentimento de companhia nessa luta pela verdade que está diante na igreja: https://youtu.be/21mf3z7-87Y

Alguns bons links para você confrontar informações falsas sobre o fechamento de igrejas, comunismo, ideologia de gênero, e notícias falsas na igreja:

TSE não obrigou pastor André Valadão a se retratar nas redes sociais

Tuítes atribuídos a Lula sobre fechamento de igrejas são falsos

Propostas em santinho apócrifo não constam no plano de governo de Lula

Veja todas as checagens sobre as Eleições 2022 do site Aos Fatos

Veja todas as checagens sobre as Eleições 2022 do site TSE

Veja checagens e o texto “Igreja e fake news” do Coletivo Bereia