Imagem: Toa Heftiba | Unsplash
Em São Paulo, assim como em várias outras cidades no mundo, estamos em quarentena. O período de isolamento social foi decretado pelo governo em 24 de março, e seguiria até terça-feira, dia 7 de abril, mas deve ser prorrogado.
Eu estou em casa desde o dia 17 de março, e tem tanta coisa acontecendo que me peguei pensando várias vezes nos últimos dias sobre o que era melhor fazer.
“É pra ficar em casa ou sair? Volto a escrever? Cuido do jardim, bordo, cozinho, telefono? Não, é melhor eu ler. Ah, é melhor adiantar esse trabalho. Mas deu a hora da coletiva do Ministério da Saúde, vou me atualizar. Não! Vou desligar um pouco e ver essa série.”
E assim vai. E assim foi. Foram duas semanas. Duas semanas ligando para as pessoas, cozinhando, bordando, jardinando e fazendo um pouco de tudo isso, sem conseguir parar a preocupação. E sim, há momentos de alívio e de deitar na rede. Me acalma cuidar da Fiona, alimentar os pássaros e procurar a Salamandra, uma lagartixa filhote que se mudou pra cá. Só não dá pra desligar dos problemas do mundo e das questões relativamente menores, que são exclusivas minhas.
Lembrei de um exercício que fiz em março, nas leituras bíblicas propostas para o mês da mulher, falando sobre como temos o poder de multiplicarmos coisas boas na vida umas das outras mesmo diante de situações que não ajudam. Não sei se tenho sido boa pra todo mundo que tem me procurado, mas muita gente tem sido boa pra mim. E isso parece ter um valor ainda maior quando pensamos que está acontecendo no momento que provavelmente será lembrado como o maior desafio dessa geração.
Cuidado, carinho se multiplica, e tem alguns que recebemos pessoalmente que fazem uma falta absurda. Notei que não aproveito bem o suficiente meu tempo entre pessoas incríveis, e culpo esse amontoado de “coisas a fazer” por essa falha. Eu acho ótimo essa tecnologia que nos ajuda com outras formas de nos conectarmos, mas nossa… Pelo menos eu, pude avaliar como “ruim” o uso do meu tempo, e como “exagerada”, a quantidade de coisas que me impedem de viver melhor, quando possível.
Talvez a gente aprenda nesses dias o quão importante é enxergar que, no conjunto da obra, não temos sido uma sociedade funcional, nem coerente, nem cristã. E assim, viver, abraçar e desfrutar melhor.
Foto: minha jardineira de suculentas Aranto, filhas de uma única mudinha. Já dei metade delas, e agora tenho outras duas quase cheias. Cresceram sem pressa e com clareza de propósito. Aprendo.
💕