A minha jabuticabeira

Foto da minha jabuticabeira | Sara de Paula

Quando me mudei para casa onde moro hoje, há quase dois anos, uma das gratas surpresas que tive foi encontrar uma jabuticabeira que havia sido deixada para trás pelos moradores antigos. Pela primeira vez eu teria a minha árvore própria. Eu cresci em uma casa com uma pitangueira gigante, uma amoreira generosa, além do pé de limão e do grande pé de boldo tão requisitado pela família. Essa casa onde cresci fica há menos de 10 minutos andando dessa minha casa atual, e estamos na cidade de São Paulo. Se engana quem pensa que aqui é tudo cinza.

Nos primeiros dias da mudança nós conversamos, eu e a jabuticabeira. Limpei a terra, reguei, e logo ela me presenteou, mas entendi que aqueles não eram frutos do meu trabalho, por eu ter acabado de chegar. No ano passado aprendi a poda-la, aduba-la e a cuidar um pouco mais. Ela floresceu e deu novas jabuticabas, doces ou não tão doces, tudo no seu tempo. Ela é generosa, mas não é como as que vivem perto do meu trabalho, que ficam completamente carregadas. Confesso que já “roubei” delas. Mas apesar de oferecer menos frutas, são minhas frutas. Nos últimos três meses ela já ofereceu duas levas de jabuticabas. Na leva anterior a essas, eu levei um potinho para o trabalho e ofereci “jabuticabas lá de casa”.

A gente compra nossos alimentos no supermercado já prontos, embalados e até descascados às vezes. A gente perde diariamente a relação com a terra, e pior que isso, às vezes perdemos a noção do valor que isso tem. Isso não é modernidade, é capitalismo. A cortina da violência nos impede de ver o animal oprimido, a comida envenenada e o trabalhador explorado. Há toda uma máquina pensada e estruturada para que nos distanciemos da natureza, mas graças a Deus, temos visto caminhos completamente diferentes disso, e claro, mais coerentes.

Esse é um tema no qual tenho pensado muito, e não por ter escapado do sistema. Ainda estou completamente imersa no sistema, mas sinto que de uns anos para cá, tenho pelo menos olhado para fora da água. E esse texto é só para te convidar a fazer o mesmo: olhar para os hábitos de consumo da sua vida, e vê-los como algo que não é definitivo.

Listo aqui 3 coisas que me ajudaram nesse processo:

  • Descobri o ecofeminismo. Se você é feminista, como eu, leia sobre o ecofeminismo. É algo que faço e que me ajuda muito. Para quem já está habituada aos conteúdos feministas é um ótimo caminho para se familiarizar com a importância de mudanças nos hábitos de consumo, e como isso impacta diretamente o sistema patriarcal.
  • Passei a pensar de onde vem meu alimento. Faça o exercício de saber de onde veio o seu. Eu falei em um post do meu Instagram sobre algumas alternativas relacionadas a agricultara familiar, e tem indicações que podem te ajudar, além de fotos lindinhas dos legumes e verduras que comprei direto do produtor. Veja aqui.
  • Entendi a importância do vegetarianismo. Assista documentários sobre vegetarianismo, até para entender o motivo das pessoas aderirem a causa (não é só uma dieta, apesar dos benefícios para a saúde). Isso é importante até para não falar sobre vegetarianismo sem saber, ou para não sair com um “o alface também sente dor”. Se você não gosta de ver animais sendo mortos e torturados, ou se não quer “gastar muito tempo” nisso, eu super indico um vídeo bem curtinho da Monja Coen sobre o tema. Não mostra imagem forte nenhuma, e nem é agressivo. Assista aqui. Se você é uma pessoa de “estômago forte”, veja documentários ou filmes sobre isso. Ajuda muito no impacto.


E sobre essa questão do vegetarianismo, gente, eu sei que é difícil. Eu falho várias vezes e ainda estou no processo de ser 100% livre da carne, e já fazem anos que comecei. O Gregório Duvivier falou sobre isso em um vídeos e lançou o “asvezestarianismo”. Assista aqui. Se não dá para parar de comer carne, eu entendo mesmo, mas dá para reduzir e ajudar muito o planeta.

Começar é importante. Se relacionar com a terra é importante. Mudar é importante, e o planeta está gritando isso.

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